quinta-feira, 12 de março de 2009

Novos Paradigmas da Educação Física


Os novos paradigmas da Educação Física tratam os conteúdos como expressões culturais, considerados em sua dimensão antropológica, ou seja, enfocam o ser humano como um ser biologicamente cultural, o que implica o fato de que toda expressão e produção humana se dá a partir de um contexto cultural.


Do universo de possibilidades de práticas corporais, nasceram vários conhecimentos e representações que foram se recodificando ao longo do tempo, constituindo a Cultura corporal do movimento.


Algumas dessas práticas corporais foram assimiladas pela Educação Física como os jogos, as brincadeiras, as danças, as lutas, as atividades circenses e as ginásticas, que apresentam um aspecto em comum, que é o de expressarem representações de diversos contextos da cultura humana.


Um dos princípios fundamentais deste enfoque é o da inclusão de todos os indivíduos nas práticas corporais de movimento, descartando os critérios de seletividade por aptidão física e rendimento padronizado.


Assim, ficam evidenciados os princípios que favorecem o desenvolvimento da autonomia, da participação, da cooperação, da afetividade e da afirmação de valores democráticos.


O acesso à cultura lúdica — seus espaços, objetos e meios de informação, formação e pesquisa — são necessidades a serem atendidas, uma vez que geram saúde, trocas de vivências entre diferentes gerações e colaboram na internalização de uma consciência crítica dos valores sociais construtivos. Também favorecem os questionamentos a respeito da mídia que permeia o universo dos esportes e, ainda, alertam para a ética profissional, a violência, o uso de dopping e o uso inadequado de atividades corporais de movimento.


Logo, torna-se necessário, na escola, discutir e construir estratégias de trabalho com os alunos, que confrontem a cultura do melhor, a cultura da exclusão e a cultura do consumo induzido.
Sabemos que a educação deve buscar cada vez mais o aluno, centrando o currículo nele, em suas experiências, interesses, expectativas e necessidades.


Sabemos também da complexidade que tal tarefa demanda, tendo-se em conta as crescentes dificuldades sociais e a crescente desmobilização dos espaços de discussão crítica e de práticas sociais, culturais e políticas, em suas dimensões éticas e estéticas.


Como está posto nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física, é tarefa da Educação Física escolar, portanto, garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuir para a construção de um estilo pessoal de exercê-las e oferecer instrumentos para que eles sejam capazes de apreciá-las

criticamente.


Logo, para contemplar todos os aspectos ideológicos e sócio-históricos que fundamentam o olhar crítico presente na Cultura Corporal de Movimento, todo o repertório de atividades, utilizado nas aulas de Educação Física, deve ser trabalhado, levando-se em consideração as características cognitivas, afetivas, corporais, éticas, estéticas e interpessoais dos alunos e o real poder contextual e de inserção social que elas apresentam.


Wilson de Souza Costa*


O jogo como atividade por excelência, que mobiliza afetos, emoções e sentimentos


Por várias razões, o universo de jogos e brincadeiras se constitui num tipo de atividade que favorece a vivência e a expressão de afetos e sentimentos. A primeira delas é que, pela própria natureza da atividade, a participação no jogo é voluntária e parte da iniciativa própria do sujeito, sendo impossível de ser imposta sem que se descaracterize esse princípio básico: o desejo pessoal de jogar e obter satisfação com o jogo. Neste sentido, as relações entre os indivíduos no grupo vão se constituir na perspectiva da participação e da satisfação e, quanto mais nova é a criança,mais essas relações são vividas de um ponto de vista egocêntrico que, lentamente,deve ir se transformando num comportamento social, no qual é levado em consideração o desejo do outro. Uma série de aspectos constitui esse universo de relações: escolher e ser escolhido, admirar e ser admirado, respeitar e ser respeitado, demonstrar competência, sentir-se integrante do grupo, expressar emoções (raiva, tristeza, alegria, medo), comunicar-se, controlar-se, simular, comemorar, arriscar, surpreender, ocupar espaços, entre outros. Todas essas matrizes são vividas corporalmente – literalmente “à flor da pele” – e são mediadas simultaneamente pela afetividade e pela cognição, constituindo, portanto, um conjunto de experiências concretas, impossível de ser distorcido ou substituído pelo discurso, pela verbalização. Em síntese, todos os sentimentos e emoções presentes numa situação de jogo, satisfatórios ou não, agradáveis ou não, positivos ou não, decorrentes dos ajustes corporais construídos dentro das atividades, são vividos de forma inequívoca e verdadeira, mesmo sendo o jogo uma situação de simulação. Há que se sublinhar, dentre esses componentes, uma atenção especial para as relações entre os gêneros, que se constroem sob forte influência do ambiente sociocultural e, portanto, podem ser facilmente manifestadas através de condutas estereotipadas e até preconceituosas. Podem ser considerados, na construção das relações entre os indivíduos dentro do grupo, três grandes eixos de intenção:

– Competição: construir competências para superar (subjetivamente) o outro;
– Comparação: construir competências para superar-se (objetivamente), a partir do modelo e da referência do outro;
– Cooperação: construir competências para evoluir (subjetiva e objetivamente) com o outro.


Marcelo Barros da Silva*

NOTAS:
* Professor de Educação Física; Consultor da Fundação Gol de Letra; Assessor da Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo; Autor dos PCN de Educação Física.